As memórias andam cada vez mais curtas, cada vez mais distantes, interrompidas. O presente é uma ilusão e o futuro é incerto. Quem foi que deu o prazo de garantia? Se existia já perdi, joguei fora junto com aquelas velhas roupas, que já não cabiam em mim. Nada cabe. Nada coube. Por fora nua. Por dentro, coberta até transbordar.
A angústia é a traça que consome os pensamentos, os delírios de quem vive dentro de um caos, uma bolha cibernética que está só de passagem, e a passagem custa caro. Não nos pertencemos. Nada nos pertence. Somos andarilhos perdidos e migalhas nãos nos basta. Queremos mais. Somos incógnitas solitárias em busca do infinito. Em outro mundo somos usuários da telepatia, falamos pouco, observamos muito. Quem observa conversa pelo olhar, mas aqui as pessoas não param para observar, para apreciar, para absorver. As pessoas não param. Olham mas não enxergam. Quem não enxerga não sente. Vim parar numa nação escrava da tecnologia, eu não me encaixo, eu fujo, eu me nego, me restrito a ser esta incógnita analógica e saudosista. Quando a máquina do tempo da bolha cibernética voltar a funcionar prometo que volto, volto para o meu lugar.
a.f.