sexta-feira, 30 de maio de 2014

CARTA DE UMA INCÓGNITA SOLITÁRIA



As memórias andam cada vez mais curtas, cada vez mais distantes, interrompidas. O presente é uma ilusão e o futuro é incerto. Quem foi que deu o prazo de garantia? Se existia já perdi, joguei fora junto com aquelas velhas roupas, que já não cabiam em mim. Nada cabe. Nada coube. Por fora nua. Por dentro, coberta até transbordar. 
A angústia é a traça que consome os pensamentos, os delírios de quem vive dentro de um caos, uma bolha cibernética que está só de passagem, e a passagem custa caro. Não nos pertencemos. Nada nos pertence. Somos andarilhos perdidos e migalhas nãos nos basta. Queremos mais. Somos incógnitas solitárias em busca do infinito. Em outro mundo somos usuários da telepatia, falamos pouco, observamos muito. Quem observa conversa pelo olhar, mas aqui as pessoas não param para observar, para apreciar, para absorver. As pessoas não param. Olham mas não enxergam. Quem não enxerga não sente. Vim parar numa nação escrava da tecnologia, eu não me encaixo, eu fujo, eu me nego, me restrito a ser esta incógnita analógica e saudosista. Quando a máquina do tempo da bolha cibernética voltar a funcionar prometo que volto, volto para o meu lugar.

a.f.

quarta-feira, 15 de janeiro de 2014

FOGUEIRA DAS BRUXAS


O que fazer com esse estágio descontrolado?
A ansiedade que me invade e me consome?
O sono que me acompanha durante o dia e de noite some?
Meu rosto pálido no espelho enfumaçado?

O que fazer quando o corpo não acompanha mais a mente?
Mesmo bêbado, tu ainda está consciente?
Pra onde fugir no meio desse labirinto distante?
Por quê você não tem mais a força e o fôlego como antes?

O que fazer quando você está sempre sendo criticado?
Não importa o que faça nem quem esteja ao seu lado
Você só é bom quando tem algo que os outros queiram
Quando não tem mais, bye-bye, eles te queimam

E pra fogueira das bruxas você vai
Pagar pela ignorância alheia
Ai meu Deus quanta besteira!
Tarde demais, não retiro o que eu digo
Prefiro morrer queimada do que viver cega e muda nesse abismo!

MEU DILÚVIO


Esse sentimento de não pertencer a nenhum lugar, 
de nada me satisfazer, de nada me fazer querer ficar, 
Nada fez, tanto faz

Como faz?

Pra curar o tédio
Qual o remédio que tira esse gosto amargo?
De solitude em dias claros

Só me contento e fico em paz na escuridão
Nuvens carregadas
Até parece que transcrevem a minha alma

Que já não chove, que já não garoa
Fica apenas cada dia mais pesada.

Ergam suas barcas!
Pois quando minha alma desabar
Será o dilúvio!

É sempre preciso um novo dilúvio para um recomeço.